A pandemia de COVID-19, que teve início em 2020, alterou de maneira profunda e irreversível vários aspectos da nossa vida cotidiana, incluindo a maneira como consumimos cultura. Antes da crise sanitária, o consumo de cultura era predominantemente presencial, com shows, peças de teatro, exposições de arte e cinemas lotados. No entanto, com o distanciamento social imposto pela pandemia, houve uma rápida adaptação para o formato digital. Essa mudança gerou um impacto significativo na indústria cultural, que precisou reinventar formas de continuar atingindo o público. A forma como consumimos cultura passou a ser mais flexível, acessível e digital.
Uma das principais mudanças trazidas pela pandemia foi a migração das produções culturais para o meio digital. Plataformas de streaming como Netflix, Spotify e YouTube, por exemplo, se tornaram ainda mais essenciais para o acesso a filmes, séries, músicas e outros conteúdos culturais. Com o fechamento de cinemas, teatros e casas de shows, esses serviços passaram a ser a principal forma de entretenimento para milhões de pessoas em todo o mundo. Assim, a maneira como consumimos cultura se digitalizou, acelerando um processo que já estava em andamento, mas que encontrou na pandemia a sua consolidação definitiva.
Além disso, a pandemia também intensificou o consumo de cultura por meio de eventos virtuais. Shows ao vivo, festivais de cinema e apresentações de teatro começaram a ser transmitidos online, possibilitando que qualquer pessoa com acesso à internet pudesse assistir a esses eventos de qualquer lugar. Isso democratizou o consumo cultural, permitindo que públicos de diferentes partes do mundo participassem de experiências antes restritas a locais físicos específicos. A barreira geográfica foi quebrada, e a forma como consumimos cultura se tornou global e mais inclusiva.
Outro impacto importante foi o aumento do consumo de cultura de nicho. Antes da pandemia, as produções culturais de grande apelo, como blockbusters de Hollywood e grandes shows internacionais, dominavam o mercado. No entanto, com a busca por novas formas de entretenimento durante o confinamento, muitos consumidores passaram a se interessar por conteúdos mais específicos e alternativos. Plataformas como Twitch, Patreon e até Instagram se tornaram canais importantes para a distribuição de cultura independente, mostrando que a forma como consumimos cultura passou a ser menos homogênea e mais personalizada.
O fenômeno do “binge-watching” também se intensificou com a pandemia. O ato de maratonar séries, que já vinha crescendo nos últimos anos, se tornou uma das principais formas de entretenimento durante o isolamento social. O aumento do tempo disponível nas casas, aliado à facilidade de acesso às plataformas de streaming, fez com que muitas pessoas passassem a consumir uma quantidade ainda maior de conteúdo audiovisual de uma vez só. A mudança na forma como consumimos cultura, portanto, não se limitou à digitalização, mas também ao ritmo com que ela passou a ser consumida.
Além da mudança no consumo de filmes e séries, a pandemia também afetou o consumo de música. Com o fechamento de bares e casas de shows, os artistas passaram a usar as redes sociais para se conectar diretamente com seus fãs. Lives de shows, apresentações de música ao vivo e interações digitais se tornaram a norma. A música, assim como outras formas de cultura, se digitalizou, e muitos artistas descobriram novas formas de engajamento com o público, criando uma experiência de consumo cultural mais interativa e personalizada. A forma como consumimos cultura, portanto, passou a ser mais direta e baseada na interação entre artista e público.
Ao mesmo tempo, a pandemia também trouxe uma nova visão sobre o valor da cultura no cotidiano das pessoas. Com o isolamento social e as restrições impostas pela crise de saúde, a cultura se tornou uma forma essencial de entretenimento, mas também de conforto e reflexão. Muitos passaram a valorizar mais os conteúdos culturais como forma de fuga do estresse e da angústia do momento. Filmes, livros, músicas e exposições digitais passaram a ser consumidos não apenas por entretenimento, mas como forma de manter a saúde mental em tempos de crise. A forma como consumimos cultura, portanto, passou a ter um significado mais profundo e terapêutico.
Por fim, é importante observar que a pandemia não apenas alterou a forma como consumimos cultura, mas também redefiniu o papel da cultura na sociedade. A digitalização dos eventos culturais e a popularização das produções independentes mostraram que a cultura não precisa mais ser uma experiência elitizada ou acessível apenas para um público restrito. Ao contrário, a pandemia evidenciou a importância de tornar a cultura mais inclusiva e acessível para todos. Assim, a forma como consumimos cultura mudou, mas também a forma como ela é produzida, distribuída e valorizada na sociedade contemporânea.