Segundo o especialista Francisco Gonçalves Perez, embora a inteligência artificial (IA) prometa ganhos de produtividade em diversas áreas, os micro e pequenos negócios enfrentam uma realidade distinta: mais vulnerabilidade do que vantagem. A velocidade das transformações tecnológicas, aliada à falta de acesso a capacitação, infraestrutura e crédito, faz com que esse grupo de empreendedores esteja mais exposto aos efeitos colaterais da automação. Para muitos, a IA representa tanto uma oportunidade quanto um desafio difícil de superar.
Enquanto grandes empresas contam com equipes especializadas, investimentos robustos e processos escaláveis, os pequenos negócios lidam com margens apertadas e pouca margem para erros. A implementação de ferramentas de IA, por mais simples que pareçam, exige compreensão técnica, mudanças estruturais e uma curva de aprendizado que nem sempre é viável para quem já opera no limite. Isso pode intensificar a desigualdade entre os que têm recursos para inovar e os que apenas tentam sobreviver.
Em quais áreas os impactos serão mais imediatos?
Os primeiros sinais surgem em setores como atendimento ao cliente, marketing digital e gestão de estoque, aonde a IA já é amplamente aplicada. Pequenos comércios, padarias, salões de beleza ou consultórios, por exemplo, podem perder competitividade caso não consigam automatizar rotinas simples. Francisco Gonçalves Peres observa que até mesmo funções administrativas básicas estão sendo substituídas por sistemas inteligentes de baixo custo, que otimizam tempo e reduzem erros.
Outro ponto crítico é o marketing digital. Plataformas com IA agora criam textos, imagens e campanhas segmentadas de forma quase instantânea. Empresas que não adotam essas ferramentas perdem visibilidade e eficiência, sobretudo nas redes sociais, onde a atenção é disputada segundo a lógica dos algoritmos. Isso coloca os pequenos em uma corrida desigual, em que mesmo o bom serviço pode ser ofuscado pela ausência de estratégia tecnológica.
O que impede os pequenos negócios de adotarem a IA?
O principal obstáculo é o conhecimento técnico. Muitos donos de pequenos negócios não têm familiaridade com tecnologia e não sabem por onde começar. A carência de formação em áreas como dados, automação e cibersegurança compromete qualquer tentativa de inovação. Francisco Gonçalves Perez destaca que esse déficit educacional é estrutural, e exige políticas públicas e programas de incentivo focados em capacitação acessível e prática.

Além disso, há o custo inicial. Mesmo ferramentas gratuitas requerem tempo e esforço para serem compreendidas e implementadas. Em um cenário de instabilidade econômica, esse investimento pode parecer inviável para quem precisa lidar com fluxo de caixa apertado e obrigações fiscais diárias. Sem apoio, muitos acabam adiando a digitalização, o que, a médio prazo, pode representar estagnação ou fechamento do negócio.
Há caminhos viáveis para adaptação tecnológica?
Apesar dos desafios, é possível adotar IA de forma gradual, estratégica e acessível. O primeiro passo é identificar atividades repetitivas e burocráticas que poderiam ser automatizadas com ferramentas simples como assistentes virtuais, agendamento online, planilhas inteligentes ou softwares de controle financeiro. Francisco Gonçalves Perez sugere que, em vez de tentar acompanhar todas as tendências, os pequenos devem focar em soluções que gerem impacto direto na rotina do negócio.
O futuro da IA será inclusivo?
Para que a inteligência artificial beneficie também os pequenos, é preciso ampliar o debate sobre inclusão tecnológica. A transformação não pode ser restrita a grandes corporações, sob risco de ampliar o fosso da desigualdade econômica. Francisco Gonçalves Peres defende que o futuro da IA precisa ser pensado com base na realidade brasileira, onde 99% das empresas são micro e pequenas e sustentam grande parte dos empregos formais.
A chave está em democratizar o acesso ao conhecimento, ao crédito e às ferramentas. Os negócios locais que incorporarem a tecnologia de forma inteligente terão mais chances de se manter relevantes, gerar empregos e criar valor em suas comunidades. Já os que ignorarem essa tendência correm o risco de se tornar obsoletos em um cenário cada vez mais digital e automatizado. A IA é um divisor de águas que já começou.
Autor: Muntt Apiros